Capítulo 4
Ninrode, neto de Noé, constrói a torre de
Babel, e Deus, para confundi-los e destruir essa obra, manda a confusão de
línguas.
16. Gênesis 10 e 11. Os três filhos de Noé,
Sem, Jafé e Cam, nascidos cem anos antes do dilúvio, foram os primeiros a
deixar as montanhas para morar nas planícies, o que os outros não ousavam
fazer, assustados ainda com a desolação universal causada pelo dilúvio. Mas o
exemplo daqueles animou estes a imitá-los. Deram o nome de Sinar à primeira
terra em que habitaram. Deus ordenou que mandassem colônias a outros lugares, a
fim de que, multiplicando-se e estendendo-se, pudessem cultivar mais terras,
colher frutos em maior abundância e evitar as divergências que de outro modo
poderiam ser suscitadas entre eles. Porém esses homens rudes e indóceis não
obedeceram e, pelo seu pecado, foram castigados com os males que lhes
sucederam. E Deus, vendo que o seu número crescia sempre, ordenou-lhes segunda
vez que formassem novas colônias.
Esses ingratos, porém, esquecidos de que
deviam a Ele todos os seus bens e atribuindo-os a si mesmos, continuaram a
desobedecer-lhe e acrescentaram à sua desobediência a impiedade de imaginar que
era uma cilada que se lhes armava, a fim de que, estando divididos, pudesse
Deus mais facilmente destruí-los. Ninrode, neto de Cam, um dos filhos de Noé, foi
quem os levou a desprezar a Deus dessa maneira. Ao mesmo tempo valente e
corajoso, persuadiu-os de que deviam unicamente ao seu próprio valor, e não a
Deus, toda a sua boa fortuna. E, como aspirava ao governo e queria que o
escolhessem como chefe, abandonando a Deus, ofereceu-se para protegê-los
contra Ele (caso Deus ameaçasse a terra com outro dilúvio), construindo uma
torre para esse fim, tão alta que não somente as águas não poderiam chegar-lhe
ao cimo como ainda ele vingaria a morte de seus antepassados.
O povo, insensato, deixou-se dominar pela
estulta convicção de que lhes seria vergonhoso ceder a Deus, e começaram a
trabalhar nessa obra com incrível ardor. A multidão e a atividade dos
operários fizeram com que a torre em pouco tempo se elevasse a uma altura acima
de qualquer expectativa, mas a sua debilidade fazia com que parecesse menos
alta do que era de fato. Construíram-na de tijolos, cimentando-a com betume,
para torná-la mais forte. Deus, irado com essa loucura, não quis, no entanto
exterminá-los, como fizera aos seus predecessores, cujo exemplo, aliás, lhes
havia sido de todo inútil, mas pôs divisão entre eles, fazendo com que a única
língua que falavam se multiplicasse num instante, de tal modo que não mais se
entendiam. A confusão fez com que se desse ao lugar onde se havia construído a
torre o nome de Babilônia, pois Babel em hebreu significa "confusão".
A Sibila assim descreve esse grande acontecimento: "Todos os homens que
então tinham uma só língua construíram torre tão alta que parecia que ela se
elevaria até o céu. Mas os deuses levantaram contra ela tão violenta tempestade
que ela foi derribada e fizeram com que aqueles que a haviam construído
falassem no mesmo instante diversas línguas. Isso foi causa de que se desse o
nome de Babilônia à cidade que depois foi construída naquele mesmo lugar".
Hestieu também fala do campo de Sinar, onde Babilônia está localizada:
"Diz-se que os sacerdotes que se salvaram dessa grande catástrofe com as
coisas sagradas, destinadas ao culto de Júpiter, o vencedor, vieram a Sinar de
Babilônia".
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