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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O ESPÍRITO SANTO COMO TESTEMUNHO INTRÍNSECO DE VERACIDADE




Tradução: Eliel Vieira

Caro Dr. Craig,

Algumas vezes eu me preocupo com sua afirmação de que, mesmo que todos seus argumentos para a existência de Deus fossem refutados, mesmo assim você continuaria a ter fé, por causa do testemunho interno do Espírito Santo.

Isto significa que se qualquer um ou todos os argumentos abaixo:

1.Seja descoberto que o universo seja eterno;

2.O ajuste fino seja explicado por causas naturais;

3.A Moralidade seja apenas uma ferramenta sócio-evolucionária;

4.Descubra-se que os evangelhos não são confiáveis, ou se encontrem os ossos de Jesus (lembre-se do que Paulo disse, de que se Jesus não ressuscitou, vã é a nossa fé)

… forem provados como falsos, mesmo assim você continuaria a ser um cristão, encarando as evidências contrárias?

O motivo desta pergunta é que esta afirmação parece minar seus esforços apologéticos em alguns momentos. Você se lembra de Christopher Hitchens apontando isto em seu debate ou de John Humphreys perguntando se você continuaria a ter fé se Lewis Wolpert tivesse derrotado seus argumentos?

Por último, e mais importante de tudo, se você está certo em ter fé mesmo que as evidências estejam contra você, então por que debater com mulçumanos? Não poderiam eles simplesmente dizer que a fé deles em Alá está além das “areias movediças da evidência”?

Obrigado,
Peter

Resposta do Dr. William Lane Craig:

Vamos ser cautelosos para formular corretamente a afirmação que você imputa a mim, Peter. O que eu afirmo é que para as pessoas que observam isto, o testemunho do Espírito Santo prevalece às acusações que alguém levanta contra as verdades que Ele testemunha. Alvin Plantinga chama esta ponderosa fundamentação como Testemunho Intrínseco de Veracidade, porque ela derrota todos os conflitos contra ela.

Agora, isto é completamente diferente de especular sobre o que eu faria na circunstância que você descreveu. Eu não tenho idéia do que, dado a fraqueza de minha carne, eu na verdade faria; mas eu sei o que eu deveria fazer. Eu deveria observar o testemunho do Espírito Santo. Mas longe de mim dizer impetuosamente como Pedro, “Mesmo que todos caiam, eu não cairei!” (Mc 14:28). Sendo assim eu não estou fazendo afirmações tão fortes quando você me acusa de fazer.

Por outro lado, eu afirmo algo muito mais forte do que o que você atribui a mim. Por que eu não apenas deveria continuar a ter fé em Deus com base no testemunho do Espírito Santo mesmo que todos os argumentos para a existência de Deus fossem refutados, mas eu deveria continuar a ter fé em Deus mesmo em face de objeções que eu não consiga responder neste tempo. A primeira afirmação não é assim tão radical: eu acho que a maioria dos teólogos, para não mencionar os crentes comuns, diria que os argumentos da teologia natural não são necessários para que se considere a fé em Deus uma crença racional. Na ausência de alguns argumentos que testifiquem a veracidade do ateísmo, eu estou de forma perfeitamente racional ao acreditar em Deus com base no testemunho do Espírito.

O que eu estou afirmando é que mesmo em face de evidências contra Deus que não possamos refutar, nós devemos crer em Deus com base do testemunho do Seu Espírito. A apostasia jamais foi uma obrigação racional a qualquer crente, nem a blasfêmia contra o Espírito Santo. Deus pode ter confiado a esta poderosa autoridade o poder de testificar sobre as verdades do Evangelho que nós nunca seremos obrigados racionalmente a rejeitá-Lo ou desertar-Lo.

Então, para falar um pouco sobre seus cenários específicos:

1.Se descobrissem que o universo é eterno, nós seríamos obrigados a abandonar a inerrância bíblica (assim como o argumento cosmológico kalam), uma vez que a Bíblia ensina que o universo foi criado em um tempo finito passado. Mas obviamente isto não implicaria que Deus não existe ou que Jesus não ressuscitou de dentre os mortos.

2.Se mostrassem que o ajuste fino não passa de leis naturais, então deveríamos abandonar o argumento do design baseado no ajuste fino do universo. Poder-se-ia ainda elaborar um argumento para o designer, como Robin Collins fez, baseado na beleza e na precisão das leis da natureza, se não nos valores das constantes da natureza. Obviamente, de novo, mesmo a falha interna absoluta de qualquer argumento de design não significaria uma prova positiva de que Deus não existe.

3.Se fosse provado que a moralidade seria simplesmente uma ferramenta sócio-evolucionária, então o teísmo seria falso e não teríamos testemunho algum do Espírito Santo, uma vez que Deus não existiria. Uma vez que o teísmo implica que valores morais objetivos existem, se eles não existem, então o teísmo seria, obviamente, falso. A chave aqui é a palavra “simplesmente”. Nós podemos concordar que a maneira pela qual nós viemos a saber dos valores morais e direitos foi através do processo evolutivo, mas concluir a partir disto que eles não são objetivamente reais seria cometer a falácia genética de tentar invalidar uma visão ao mostrar como alguém veio a aceitá-la. Na ausência de uma prova ao ateísmo, o relato sócio-evolutivo de nossa moral não logra êxito algum em negar a validade de sua objetividade.

4.Novamente, se os ossos de Jesus fossem de fato encontrados, então a doutrina de sua ressurreição seria falsa e assim o Cristianismo não seria verdadeiro, nem existiria algo como o testemunho do Espírito Santo. Assim, se os ossos de Jesus fossem encontrados, ninguém deveria ser cristão. Felizmente, existe um testemunho do Espírito Santo, e disto se segue logicamente que os ossos de Jesus não serão encontrados.

Sobre seu ponto de que minha defesa do testemunho do Espírito Santo mina meus esforços apologéticos, bem, eu não tenho escolha a não ser defender a epistemologia religiosa que eu acredito ser verdadeira, não importando as conseqüências. Ironicamente, eu tenho apresentado em meus trabalhos publicados e debates uma teologia natural mais robusta e evidente para a apresentação cristã do que os auto-intitulados evidencialistas. Eu acho isto estranho porque eu também acredito que exista uma autenticação interna do testemunho do Espírito Santo, e este fato é apontado como que minando de alguma forma os argumentos e as evidências que eu apresento. Eu suspeito que as pessoas estejam apenas reagindo emocionalmente às minhas afirmações sobre o testemunho do Espírito Santo, ao invés de se esforçarem para analisar meus argumentos em detalhes, premissa por premissa.

Sobre sua questão final, eu a abordei no livro Reasonable Faith, 3rd Ed., p. 48 a 50 [cuja primeira edição foi publicada no Brasil como “A Veracidade da Fé Cristã”, Edições Vida Nova]. Claro, qualquer um (ou pelo menos qualquer tipo de teísta) pode afirmar ter um testemunho interno de Deus para a verdade de sua religião. Mas a razão de você argumentar com eles é porque eles realmente não têm isto: eles tem alguma experiência emocional ou eles interpretaram incorretamente suas experiências religiosas. Assim você apresenta argumentos e evidências em favor do teísmo cristão e objeções contra a visão de mundo deles na esperança de que a falsa confidência se desmanche ante o peso da argumentação e eles venham então a conhecer a verdade. (É exatamente isto que os ateus devem fazer comigo). Obviamente, ao apresentar tais argumentos, você não está trabalhando contra ou à parte do Espírito Santo. Ele está trabalhando, também, testificando aos corações deles a verdade do Evangelho e usando seus argumentos, quando você os apresenta amorosamente, para levar a pessoa à fé salvadora em Cristo.

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