Grupo no facebook

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Gênesis 3 - O dilúvio segundo Flávio Josefo


Capítulo 3

Da posteridade de Adão até o dilúvio, do qual Deus preservou Noé por meio da arca, prometendo-lhe não mais castigar os homens com dilúvio.

10.  Gênesis 5. Sete gerações continuaram a viver no exercício da virtude e no culto do verdadeiro Deus, ao qual reconheciam por único Senhor do universo.

Mas as que vieram em seguida não imitaram os costumes dos pais. Não presta­vam mais a Deus a honra que lhe era devida nem exerciam mais a justiça para com os homens, mas se entregavam com mais ardor ainda a toda sorte de cri­mes, enquanto os seus antepassados se haviam dedicado à prática de toda espé­cie de virtudes. Assim, atraíram sobre si a cólera de Deus, e os grandes* da terra, que se haviam casado com as filhas dos descendentes de Caim, produziram uma raça indolente que, pela confiança que depositavam na própria força, se vanglo­riava de calcar aos pés a justiça e imitava os gigantes de que falam os gregos.

* Nessa época, havia duas raças distintas: a descendência de Sete e a de Caim. Os expositores modernos, em sua maioria, concordam que os "filhos de Deus", citados em Gênesis 6.2, constituíam a descendência de Sete, e os "filhos dos homens", a descendên­cia de Caim. (N do E)

11. Noé, entristecido pela dor de vê-los imersos nos crimes, exortava-os a mu­dar de vida. Mas quando viu que em vez de seguir os seus conselhos eles se torna­vam cada vez piores, o temor de que o fizessem morrer com toda a sua família levou-o a deixar a sua pátria. Deus, que o amava por causa de sua probidade, ficou tão irritado pela malícia e corrupção do resto dos homens que resolveu não so­mente castigá-los, mas exterminá-los completamente e repovoar a terra com ho­mens que vivessem na pureza e na inocência.


 Assim, abreviou-lhes o tempo da vida, reduzindo-o a cento e vinte anos, inundou a terra de modo a parecer que ela havia sido tomada pelo mar e fê-los todos perecer nas águas, com exceção de Noé. A este, para salvá-lo, ordenou que construísse uma arca de quatro andares, com trezentos côvados de comprimento, cinqüenta de largura e trinta de altura; que lá se encerrasse com a esposa, os três filhos e as três esposas deles; e que levasse todo o necessário para o seu alimento e também para os animais de todas as espécies, os quais ele deveria levar consigo, para conservar-lhes a raça. Isto é, um casal de cada espécie, macho e fêmea, e sete casais de algumas. O teto e os lados da arca eram tão fortes que ela resistiu à violência das águas e dos ventos e salvou Noé e sua família da inundação geral que fez morrer todos os outros ho­mens. Ele era o décimo descendente de Adão, de masculino em masculino, pois era filho de Lameque, que era filho de Metusalém. Metusalém era filho de Jarede. (arede era filho de Maalalel, que tinha vários irmãos). Maalalel era filho de Cainã. Cainã era filho de Enos. Enos era filho de Sete, e Sete era filho de Adão.

12. Noé tinha seiscentos anos quando veio o dilúvio. Foi no segundo mês, que os macedônios chamam dius, e os hebreus, maresvã, pois os egípcios assim dividiram o ano. 


Quanto a Moisés, ele deu, nos seus fastos, o primeiro lugar ao mês chamado nisã, que é o xântico macedônio, porque foi nesse mês que ele retirou os hebreus da terra do Egito e por essa razão começou por esse mesmo mês a registrar o que se refere ao culto a Deus. No que se refere às coisas civis, no entanto, como as feiras e mercados determinados pelo comércio e empreendimentos semelhantes, não hou­ve mudança alguma. Moisés registra que a chuva causadora do dilúvio geral come­çou a cair no dia 27 do segundo mês do ano 2256 depois da criação de Adão. A Sagrada Escritura faz o cálculo disso e anota com cuidado muito particular o nasci­mento e a morte dos grandes personagens daquele tempo. 


* Adão viveu novecentos e trinta anos e tinha duzentos e trinta** quando nasceu o seu filho Sete. Sete viveu novecentos e doze anos e tinha duzentos e cinco quando nasceu o seu filho Enos. Enos viveu novecentos e cinco anos e tinha cento e noventa quando nasceu o seu filho Cainã. Cainã viveu novecentos e dez anos e tinha cento e setenta quando nasceu o seu filho Maalalel. Maalalel viveu oitocentos e noventa e cinco anos e tinha cento e sessenta e cinco quando nasceu o seu filho Jarede. Jarede viveu novecentos e sessenta e dois anos e tinha cento e sessenta e dois quando nasceu o seu filho Enoque. Enoque viveu trezentos e sessenta e cinco anos e tinha cento e sessenta e cinco quando nasceu o seu filho Metusalém. Na idade de trezentos e sessenta e cinco anos, foi tirado do mundo, e ninguém escreveu sobre a sua morte.

Metusalém viveu novecentos e sessenta e nove anos e tinha cento e oitenta e sete quando nasceu o seu filho Lameque. Lameque viveu setecentos e setenta e sete anos e tinha cento e oitenta e dois quando nasceu o seu filho Noé. Noé viveu novecentos e cinqüenta anos, os quais, acrescentados aos seiscentos que já contava na ocasião do dilúvio, perfazem o número anteriormente assinalado de dois mil duzentos e cinqüenta e seis anos. Foi mais conveniente para esse cálculo citar, como fiz a época do nascimento desses primeiros homens, e não a de sua morte, porque a vida deles era tão longa que se estendia até a poste­ridade mais remota.

* Este trecho está inteiramente corrompido no texto grego e foi corrigido pelo que dizem os manuscritos.

** Algumas idades neste trecho diferem do relato bíblico porque seguem a crono­logia da Septuaginta — o texto da Bíblia é baseado na cronologia hebraica. (N do E)

1 3. Gênesis 7 e 8. Deus, então, deu o sinal e livre curso às águas, a fim de inunda­rem a terra, e elas elevaram-se, por uma chuva contínua de quarenta dias, até quinze côvados acima das mais altas montanhas e não deixaram nenhum lugar para onde o povo pudesse fugir e salvar-se. Depois que a chuva cessou, passaram-se cento e cinqüenta dias antes que as águas se retirassem e somente no vigésimo sétimo dia do sétimo mês a arca se deteve sobre o vértice de uma montanha da Armênia. Noé então, abriu uma janela e, vendo um pouco de terra ao redor da arca, começou a se consolar e a conceber melhores esperanças. 


Alguns dias depois, ele fez sair um corvo para saber se havia ainda outros lugares de onde as águas se tivessem retirado com­pletamente e se ele podia sair sem perigo. O corvo, porém, achando a terra ainda toda inundada, voltou à arca. Sete dias depois, Noé fez sair uma pomba, e ela voltou com os pés enlameados, trazendo no bico um ramo de oliveira. 


Assim, ele soube que o dilúvio havia cessado. Após haver esperado outros sete dias, fez sair todos os ani­mais que estavam na arca. E ele também saiu, com a mulher e os filhos, ofereceu um sacrifício a Deus em ação de graças e deu um banquete à família.

Os armênios chamaram a esse lugar Descida ou Saída, e os seus habitantes apontam ainda hoje alguns restos da arca. Todos os historiadores, mesmo os bár­baros, falam do dilúvio e da arca, dentre outros Berose, caldeu. Eis as suas palavras: "Diz-se que ainda hoje se vêem restos da arca sobre a montanha dos Cordiens, na Armênia, e alguns levam desse lugar pedaços de betume, com o qual ela estava recoberta, e dele se servem como impermeabilizante". Jerônimo, egípcio que escreveu sobre as antigüidades dos fenícios, Mnazeas e vários outros disso fala também. Nicolau de Damasco, no nonagésimo sexto livro de sua história, menci­ona-o nestes termos: "Há na Armênia, na província de Miniade, uma alta monta­nha chamada Baris, sobre a qual, diz-se, muitos se salvaram durante o dilúvio, e que uma arca cujos restos se conservaram por vários anos, e na qual um homem se havia encerrado, deteve-se no cume dessa montanha. Há probabilidade de que esse homem é aquele de que fala Moisés, o legislador dos judeus".

14. Gênesis 8 e 9. Com medo de que Deus inundasse a terra todos os anos, a fim de exterminar a raça dos homens, Noé ofereceu-lhe vítimas, rogando que nada mudasse na ordem estabelecida anteriormente e que Ele não usasse de tal rigor, fazendo perecer todas as criaturas vivas, mas se contentasse por ter casti­gado os maus, como os seus crimes mereciam, e por ter poupado os inocentes, aos quais Ele quisera salvar a vida. Pois, de outro modo, eles seriam ainda mais infelizes do que os que haviam sido sepultados nas águas, tendo visto com tremor tão estranha desolação e tendo dela sido preservados apenas para perecer mais tarde, de maneira semelhante. Assim, rogava que Deus aceitasse o seu sa­crifício e não mais olhasse para a terra com cólera, de modo que ele e seus descendentes pudessem cultivá-la sem medo, construir cidades, desfrutar de to­dos os bens que possuíam antes do dilúvio e passar uma vida tão longa quanto feliz, como a de seus antepassados.

Como Noé era homem justo, Deus atendeu à sua oração e concedeu-lhe o que pedia, dizendo-lhe que não fora o patriarca a causa dos que se haviam perdido no dilúvio; que eles só podiam acusar a si mesmos pelo castigo rece­bido; que se tivesse querido perdê-los, não os teria feito nascer, sendo mais fácil não dar a vida do que a tirar após tê-la concedido; que eles deviam, portanto, atribuir os castigos aos seus próprios crimes; que, em consideração à sua oração, não lhes seria mais tão severo no futuro; e que, quando viessem tempestades e furacões extraordinários, nem ele nem seus descendentes de­veriam pensar num outro dilúvio, pois Ele não mais permitiria que as águas inundassem a terra. 


Contudo proibia a ele e aos seus manchar as mãos no sangue, e ordenava-lhes que castigassem severamente os homicidas, e os fa­zia senhores absolutos dos animais, para dispor deles como quisessem, exceto de seu sangue, do qual não podiam usar como do resto, porque no sangue está a vida. "E meu arco", acrescentou, "que vereis no céu, será o sinal e a garantia da promessa que vos faço". Isso disse Deus a Noé. E ao arco que apareceu no céu, chamaram arco de Deus.

15. Noé viveu trezentos e cinqüenta anos depois do dilúvio, na máxima prospe­ridade, e morreu com novecentos e cinqüenta anos de idade. Por maior que seja a diferença entre a pouca duração da vida dos homens de hoje e a longa duração da dos de que acabo de falar, o que narro não deve passar por inverossímil. E que, além de os nossos antepassados serem muito queridos de Deus, e como obra que Ele havia feito com as próprias mãos, os alimentos de que se nutriam eram mais apropri­ados para conservar a vida. E Deus a prolongava, tanto por causa de sua virtude como para lhes dar meios de aperfeiçoar as ciências da geometria e da astronomia, que eles haviam inventado — o que eles não teriam podido fazer se tivessem vivido menos de seiscentos anos, pois é somente após a revolução de seis séculos que se completa o grande ano. Todos os que escreveram a história, tanto da Grécia como de outras nações, dão testemunho do que digo. Mâneto, que escreveu a história dos egípcios, Berose, que nos deixou a dos caldeus, Moco, Hestieu e Jerônimo, que escreveram a dos fenícios, dizem também a mesma coisa. Hesíodo, Hecateu, Ascausila, Helânico, Éforo e Nicolau, referem que esses primeiros homens viviam até mil anos. Deixo aos que lerem isto que façam o juízo que quiserem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário