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segunda-feira, 14 de maio de 2012

ESTOU COM UMA VONTADE IMENSA DE SAIR DA ASSEMBLÉIA DE DEUS



Por Cristiano Santana


Há tempos venho tecendo críticas, um tanto quanto pesadas, sobre o sistema de governo eclesiástico da Assembléia de Deus que, a cada ano, parece distanciar-se dos princípios que nortearam essa importante instituição nos seus primórdios.


É com imensa tristeza que vemos a liderança assembleiana transitar de um perfil teocrático, e por que não dizer, democrático, para uma ideologia humanista, centralizadora e eminentemente totalitária.


Essas palavras do saudoso pastor Alcebíades Pereira Vasconcelos (1914-1988), um dos maiores líderes das história das Assembléias de Deus, já deixou de ser realidade há muito tempo:


“No nosso entender, a igreja cristã biblicamente entendida, governa-se a si mesma, mediante o sistema democrático em que todos os seus membros livremente podem e devem ouvir e ser ouvidos, votar e ser votados, conforme a sua capacidade pessoal de servir. (...) A igreja cristã, à luz do Novo Testamento, é uma democracia perfeita.” (Jornal Mensageiro da Paz, nº 10, de 1959, pág. 4, citado pelo Dicionário do Movimento Pentecostal, edições CPAD)


Muitas lideranças tentam mascarar a realidade dos fatos, apresentando ao povo uma situação puramente fictícia, uma propaganda destinada a conquistar as massas e arregimentar em torno de si uma enorma quantidade de simpatizantes.


Para os dissidentes, o sistema utiliza o instrumento do terror, o qual, embora não resulte em mortes, como nos sistemas totalitários atuais, é igualmente eficaz para infundir o medo nos corações. O pastor dirigente tem de ficar calado para não perder a direção de uma congregação. O líder de departamento tem de usar a mordaça para não perder o departamento. E todos acabam sendo convencidos de que o silêncio significa obediência.


Apesar disso tudo, tenho lutado para permanecer na igreja onde nasci e cresci espiritualmente, há quase vinte anos. Mas a situação tem ficado, cada vez mais, insuportável. Percebi que, não importa para onde for, se for uma igreja assembleiana, eu me depararei, inevitavelmente, com essas anomalias, pelo simples fato de elas terem uma natureza sistêmica, já contaminaram todo o organismo eclesiástico.


Recentemente, presenciei um fato, dentro de uma igreja assembleiana, que me deixou em estado de choque e que é util para comprovar tudo o que foi dito acima.


O culto seguia alegre, até que chegou a hora da "pregação". Em um dia de domingo, o pastor da igreja escolheu, como tema, o dízimo. Após ler a famosa passagem de Malaquias 3:10-11, o homem de Deus pregou um sermão que superou o de Jonathan Edwards ("Pecadores nas mãos de um Deus irado"), tais foram as palavras terrificantes que ele vociferou aos presentes.


Começou com o velho truque hermenêutico de dizer que quatro demônios habitam a casa do crente que não é dizimista. O crente inadimplente, então, passa a experimentar as mais terríveis maldições de Deus: doenças, dificuldades financeiras, aparelhos eletrodomésticos queimados, briga entre os cônjugues, roupas estragadas e até vassoura quebrada. Ele chegou a dizer que o fim do crente dizimista é parecer-se, cada vez mais, com o endemoniado gadareno.


Enfim, o pastor reduziu toda uma vida de felicidade à prática do dízimo. Esqueceu-se que Deus não aceita dízimos de pecadores. Esqueceu-se que o cristão pode deixar de dar o dízimo por um motivos de força maior. Quem é capaz de dar o dízimo sabendo que o seu pai e a sua mãe está à beira da morte, precisando de remédios com urgência? Por acaso o mandamento do dízimo está acima do mandamento de honrar o pai e a mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, ocupando um lugar especial nos dez mandamentos? Esqueceu-se que o Senhor falou: "Misericórdia quero e não sacrifícios". Esqueceu-se também que qualquer oferta deve ser seguida por um sentimento de alegria e não de obrigação, etc. Esqueceu-se que todos os nascidos de Deus estão sob a benção de Abraão e que a vida do crente não é uma brincadeirinha: "dei o dízimo, agora sou abençoado; não dei o dízimo, agora sou amaldiçoado". O "status" de filho de Deus, que nos pertence, não é algo que se perde de uma hora para a outra."


Ao final da pregação, surpreendentemente, o pastor disse que iria ungir a todos. Em primeiro lugar seriam ungidos os dizimistas, depois os não dizimistas. Eu não acreditei quando ouvi aquilo. Estava sendo feita uma separação pública entre os dizimistas e os não-dizimistas, entre os abençoados e os amaldiçoados.


Pude ver a face triste dos "amaldiçoados", que foram expostos à humilhação pública, a um maligno constrangimento. Foi a mesma coisa que afixar uma listagem no quadro da igreja informando os nomes dos dizimistas e dos não-dizimistas, uma prática que colide frontamente contra princípios jurídicos basilares, sobretudo àqueles que tocam à honra e à boa imagem. Isso afronta também os princípios cristãos. Será que o Senhor Jesus agiria dessa forma, separando o joio do trigo ainda nesta terra? Quem tem vergonha não envergonha ninguém.


Já disse e repito que nossos líderes, além de cobrarem, devem também cumprir com os seus deveres. O que aconteceu com a prática de afixar no quadro da igreja o relatório financeiro do mês, com as receitas e despesas? O povo de Deus não têm o direito de saber para onde estão indo os recursos financeiros da Igreja? Se somos membros de um associação, conforme diz o Código Civil, não temos todos o direito à informação dos dados financeiros da igreja?


Se um dia fosse feita uma pesquisa, perguntando ao crentes por que eles não dão dízimo, a resposta dessa parcela inadimplente seria apenas essa: "Não dou dízimo porque não há prestação de contas daquilo que é feito com o dinheiro".


A cobrança repressiva do dízimo também é perversa, na medida em que institui uma via de mão única que só beneficia a instituição. E a contrapartida? Já ouvi histórias comoventes de ex-dizimistas que, no momento do aperto, pediram ajuda à igreja e ouviram um sonoro não. Receberam a resposta de que, se eles estavam passando por aquela situação é porque tinham cometido algo errado. Que lógica perversa, não acham? Sabe quando vão criar um fundo de amparo a ex-dizimistas? Nunca. O dizimista só é útil e valorizado enquanto estiver contribuindo financeiramente. Caso perca o emprego, torna-se aquele inseto asqueroso do conto de Franz Kafka, "A metamorfose", desprezado por todos, condenado a definhar até à morte.


O episódio, que narrei acima, é apenas um dos milhares, testemunhados por crentes, diariamente, que corroboram a afirmação que fiz no início desse texto, a saber, que a Assembléia de Deus experimenta um processo de degradação, aquilo que o princípio físico da entropia chama de tendência de um sistema a atingir um estado de desordem. E o retrato desse declínio é justamente a utilização crescente de instrumentos totalitários: decisões arbitrárias e unilateriais, falta de prestação de contas, censura, assédio moral, ameaças e outras práticas ligadas ao jogo mundano do poder.


Vale a pensa reproduzir aqui algumas frases que o pastor Carlos Roberto publicou em seu site, Point Rhema:


"Geralmente, QUANDO SE Num Entra Processo de Crescimento descontrolado de Uma Organização, abandonam-se OS Princípios Sobre os Quais ELA Foi constituída"


"A Confiança exagerada em si mesmos, Sistemas CRIAM Que nsa OU NA Própria Capacidade de resolução n º Tudo Que Faz OS COM SEUS líderes Pontos Não enxerguem de fraqueza. Subestimar OS Problemas e superestimar A própria Capacidade de lidar com eles em Excesso É autoconfiança." 


"Um indício claro de Declínio É desencadeado QUANDO líderes ignoram Informação minimizam CRÍTICAS OU, OU se recusam escutar uma Aquilo Que Não lhes Interessa" "Uma QUANDO UM REAGE uma Organização Problema Usando artifícios Que Não São OS Melhores".


Está muito difícil permanecer na Assembléia de Deus. Que o Senhor me dê forças para continuar contemplando tantas injustiças.



Um comentário:

  1. Cristiano, ninguém é obrigado a dizimar. Aliás, em Mal.3:10, o Eterno está falando aos sacerdotes e não ao povo, começe a ler a partir do cap. 2 para vc ver.É engraçado, nos ensinam que estamos na era da graça, até para o mais vil criminoso e assassino que é total/ perdoado más, ai dele se não dizimar; estará jogado aos cães (entenda-se, demônios).
    Ou somos abençoados pela graça ou pelos dízimos. Pois eu creio, pelo contexto de toda a palavra, que tudo o que recebemos do pai é somente pela graça e misericórdia do nosso Salvador e jamais por dízimos ou qualquer outra coisa.
    Más, Cristiano, pense bem em deixar a igreja. Pastores vão e vem. Ore e aguarde o mover do Senhor.

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