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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Proto Evangelho de Tiago – 1. Apócrifo




Resumo do livro: Proto-Evangelho de Tiago – A Natividade de Maria (séc. I ou II dC)

Estamos diante de uma obra que suscitou muita controvérsia: o “Proto-Evangelho de Tiago”, também conhecido como “Livro de Tiago” ou, ainda, “A Natividade de Maria”.
Sua autoria é atualmente tida como desconhecida, embora o autor se identifique como Tiago (cf. XXV,1). Os críticos, porém, não concordam que esta obra tenha como autor um judeu em virtude do desconhecimento que o autor parece ter da religião judaica.

A data de composição é tão discutida quanto a sua autoria, variando de 60 dC até o fins do séc. II. Boa parte dos estudiosos crê que a obra tenha surgido antes mesmo dos Evangelhos canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e João, motivo pelo qual, a partir do séc. XVI, passaram a chamar a obra de “Proto-Evangelho”, isto é, “primeiro Evangelho”.

Seja como for, o fato é que tal escrito gozou de grande estima entre os primeiros cristãos, incluindo grandes figuras eclesiásticas como Clemente de Alexandria, Orígenes, São Justino e Santo Epifânio. Também notável foi sua contribuição para a Mariologia e a liturgia da Igreja.

A obra se inicia com o nascimento de Maria, sua consagração no Templo, o casamento com José, a concepção de Jesus, a visita dos Reis Magos e a perseguição e matança das crianças inocentes.
Alguns pontos chamam a atenção: os nomes dos pais de Maria: Joaquim (I,1) e Ana (II,1); esta é estéril (II,1); Maria é consagrada ao Templo aos 3 anos de idade (VII,2) e lá fica até completar os 12 anos (VIII,2); José é então escolhido para ser o esposo de Maria (IX,1), embora fosse velho e tivesse filhos, por ser viúvo (IX,2; cf. Mc 6,3 e paralelos); a anunciação feita por Gabriel é extremamente semelhante ao que lemos em Mateus e Lucas, embora possua maior riqueza de detalhes (XI); o mesmo se pode dizer do episódio em que Maria visita sua parente Isabel (XII); em virtude de sua gravidez inesperada, é interpelada, juntamente com José, pelos representantes do Templo (XV e XVI); indo para Belém, terra de José, por ocasião do censo, Maria vem dar à luz ao seu Filho em uma caverna e uma parteira é chamada para os serviços de parto (XVIII,1); para espanto da parteira, Maria permanece virgem mesmo após o parto de Jesus (XIX e XX); a visita dos Magos também segue próxima ao Evangelho de Mateus; por fim, quando Herodes manda matar as crianças, Zacarias, pai de João Batista, é assassinado no Templo, acusado de ter escondido seu filho, que também contava com poucos meses de idade (XXIII e XIV).


O livro:

Capítulo I

1. Conforme as memórias das Doze Tribos de Israel, existia um homem riquíssimo chamado Joaquim. Suas oferendas eram sempre em dobro e dizia: “A sobra ofereço para todo o povoado e o que devo ofereço ao Senhor, para expiar os meus pecados e conquistar-Lhe as boas graças”.
2. Quando chegou a grande festa do Senhor, onde os filhos de Israel oferecem seus donativos, Rubem pôs-se diante de Joaquim e disse-lhe: “Como não geraste um rebento em Israel, não te é lícito oferecer donativos”.
3. Então Joaquim mortificou-se e foi até os arquivos de Israel para consultar o censo genealógico para confirmar que teria sido o único no povoado que não tivera descendentes. Examinando os pergaminhos, certificou-se que todos os justos tiveram descendentes. Lembrou-se, então, que o Senhor dera ao patriarca Abraão, em seus últimos anos de vida, um filho: Isaac.
4. Joaquim ficou muito triste e não voltou para sua mulher, retirando-se para o deserto. Lá armou sua tenda e jejuou por 40 dias e 40 noites. Disse a si próprio: “Daqui não sairei, nem para comer ou beber, até que o Senhor meu Deus me visite. Sirvam as minhas orações por comida e bebida”.

Capítulo II

1. Ana, sua mulher, chorava e lamentava em dor: “Ficarei chorando a minha viuvez e a minha esterilidade”.
2. Quando afinal chegou a grande festa do Senhor, Judite, sua criada, disse-lhe: “Até quando humilharás a alma? Eis que chegou a grande festa e não podes entristecer-te. Pega este véu com selo real que a dona da tecelagem me deu, pois não posso usá-lo já que sou simples serva.”
3. Disse-lhe Ana: “Afasta-te de mim, pois nada fiz. O Senhor me humilhou o suficiente para que eu possa usá-lo. Acaso algum ímpio to deu para me fazerdes cúmplice do pecado?”. Respondeu Judite: “Por que iria eu maldizer-te se o próprio Senhor já te amaldiçoou a não deixardes descendente em Israel?”
4. Mesmo estando profundamente triste, Ana retirou seus trajes de luto, pôs o véu e os trajes de bodas. À hora nona, desceu ao jardim e foi passear. Então, assentou-se sob a sombra de um loureiro e orou ao Senhor: “Ó Deus dos nossos pais: ouvi-me e bendizei-me como fizeste com o ventre de Sara, que concebeu a Isaac”.

Capítulo III

1. E olhando para o céu, observou um ninho de passarinhos existente no loureiro. Voltou então a lamentar-se, dizendo: “Ai de mim! Por que nasci? Em que hora fui concebida? Vim ao mundo para ser terra maldita entre os filhos de Israel, pois me injuriam e me expulsam do Templo do Senhor.
2. Ai de mim! A que posso comparar-me? Certamente não posso me comparar às aves do céu porque elas fecundam na tua presença, ó Senhor. Ai de mim! A que posso comparar-me? Não posso comparar-me às feras da terra porque esses animais irracionais reproduzem-se diante dos teus olhos, ó Senhor.
3. Ai de mim! A que posso comparar-me? Certamente não posso me comparar sequer a estas águas porque também elas são férteis perante ti, Senhor. Ai de mim! A que posso comparar-me? Não posso ao menos me comparar à terra porque ela é fecunda e produz frutos a seu tempo, bendizendo-te, ó Senhor.”

Continua amanhã



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