Sola Fide, Sola Scriptura, Sola Gratia e Solo Cristo. Este foi o grande slogan da reforma protestante levado a cabo pelo ex-monge agostiniano Martinho Lutero no século XVI. Cada um destes princípios serviram como um cânon pelos quais os reformadores submeteram e avaliaram as doutrinas da Igreja Católica Romana. Roma sempre havia ensinado que a salvação vinha pela graça e fé em Cristo e que a Bíblia era a palavra de Deus, mas nunca os havia antecedido pelo termo “somente”. Junto com a graça a contra-reforma católica adicionou os sacramentos, fé mais obras, Bíblia mais tradição, Cristo mais Maria. De modo que ao estourar o conflito teológico com as exposições dos reformadores de que a doutrina da igreja deveria se basear somente na Bíblia, pareceu então uma ameaça à teologia papal.
Martinho Lutero, especializando-se nas epístolas aos Romanos, Gálatas e Hebreus, foi capaz de perceber claramente os erros da Igreja Católica Romana. Ao ver que os papas e os concílios podiam errar, passou a reconhecer a supremacia das Escrituras. Dizia Lutero: “Não me retrato de coisa alguma a não ser que me convençam pelas Escrituras ou por meio de argumentos irrefutáveis”. Contudo, Lutero e os Reformadores não queriam dizer com Sola Scriptura que a Bíblia é a única autoridade para a igreja. Pelo contrário, queriam dizer que a Bíblia é a única autoridade infalível dentro da igreja. Para Calvino os escritos dos apóstolos eram pro dei oraculis habenda sunt (foram oráculos que foram recebidos de Deus), logo devemos aceitar quid quid in sacris scripturis traditum est sine exceptione (tudo quanto foi entregue nas escrituras, sem exceção). Entrementes, a posição oficial do catolicismo em relação à Bíblia é que a Bíblia não pode falar por si mesma a não ser que seja interpretada pela igreja católica, levando em conta a tradição viva da Igreja. Em outras palavras, a Bíblia não possui nenhuma autoridade inerente, mas como toda verdade espiritual, deriva sua autoridade da Igreja; o que a igreja diz é julgado como a verdadeira Palavra de Deus. Quando um fiel se defronta com um conflito entre a Bíblia e a autoridade da Igreja em algum ponto doutrinário, como por exemplo: purgatório, imagens, santos ou indulgências ele imediatamente abandona a voz da palavra de Deus e apega-se a voz da sua igreja, pois, como ele sempre foi ensinado, esta é a única interprete infalível da Bíblia, tendo a tradição como ferramenta exegética. Como costumam dizer: “A igreja deu origem a Bíblia e dela deriva sua autoridade” por isso a Bíblia está aberta a tradição, no entanto, aquela nunca deve julgar esta. Então se se aceita a voz da Igreja como infalível em matéria de fé e doutrina, o que Bíblia vem a dizer sobre estas coisas é no final das contas irrelevante!
Assim, não é difícil entender por que recentemente os apologistas católicos vêem atacando a doutrina da “Sola Scriptura” com tanta ênfase. A razão é obvia, se eles puderem derrubar por terra esta doutrina, os outros pontos da reforma caem juntamente. Eles então montaram um ataque focalizado cuidadosamente contra Sola Scriptura esperando assim, contrariar a força maior da Reforma. Começaram a afirmar que é possível desacreditar esta doutrina usando a própria Bíblia. Esta linha de argumento está sendo empregada agora por vários católicos em praticamente quase todo fórum de debate. Eis alguns argumentos usados por apologistas católicos enviados aos evangélicos:
“O ensino protestante de que a Bíblia é a autoridade espiritual exclusiva “Sola Scriptura”, em nenhuma parte é encontrado na Bíblia. Paulo escreveu a Timóteo que Bíblia é “útil”, mas nem ele ou qualquer um na igreja primitiva ensinou isto. Na realidade, ninguém acreditou nisto até a Reforma.”
“A Bíblia não ensina em nenhuma parte que é a autoridade exclusiva em assuntos de convicção. Na realidade, a Bíblia ensina que a Tradição - os ensinos orais dados por Jesus aos apóstolos e os sucessores deles, os bispos- é uma fonte paralela de convicção autêntica 2 Tessalonicenses 2:15 e 1 coríntios 11:2”
Como o leitor pode perceber, o problema central não está em o católico negar ou não a autoridade da palavra de Deus, mas em acrescentar-lhe algo a mais, que neste caso é a chamada tradição oral da Igreja. Certamente a advertência seguinte contra este tipo de raciocínio não se limita apenas ao livro do Apocalipse mas se estende à toda a escritura, “Eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro: Se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus lhe acrescentará as pragas que estão escritas neste livro; e se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus lhe tirará a sua parte da árvore da vida, e da cidade santa, que estão descritas neste livro” (Apocalipse 22:18,19).
A IMPORTÂNCIA DA TRADIÇÃO NO CATOLICISMO
No conceito católico, “Tradição” é um termo empregado para designar supostos ensinamentos que Cristo e os apóstolos transmitiram de viva voz de geração à geração à igreja. Ela é formada pelos escritos dos “santos padres” e as declarações oficiais dos Concílios através dos tempos. O concilio da contra-reforma (Concilio de Trento) dizia: “A revelação sobrenatural está nos livros escritos e nas tradições não escritas...”
“A Sagrada Tradição”, afirma o Concílio Ecumênico Vaticano II através de sua Constituição Dogmática Dei Verbum “a Sagrada Tradição...transmite integralmente aos sucessores dos apóstolos a Palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos apóstolos...”
A tradição é a fonte primordial de todas as doutrinas extrabíblica encontrada no bojo dogmático do catolicismo. Por isso que somente após o concílio tridentino, foi que apareceram as primeiras coleções de obras patrísticas - o primeiro órgão da Tradição - fazendo frente à reforma protestante levada a cabo por Martinho Lutero. Era necessário dar um status de autoridade à tradição a fim de dar suporte às heresias romanistas. O teólogo católico Van Iersel, em seu artigo: “O uso da Bíblia na Igreja Católica”, inserido no vol. V, de Temas Conciliares na página 17, confessa: “...em oposição à reforma deu-se um lugar à Tradição ao lado da Escritura, o que tornava muito relativo o valor da Bíblia”.(ênfase acrescentada)
Foi assim que a tradição ganhou força junto às Escrituras, sendo até mesmo superior a esta pois, “Pela mesma Tradição...as próprias escrituras são nela cada vez melhor compreendidas...” sublinha o Concílio Vaticano II.
Enquanto a tradição sempre é empregada para determinar o que diz a Bíblia, em contrapartida nunca é permitido à Bíblia julgar a tradição. A FRAGILIDADE DAS TRADIÇÕES
A grande maioria das religiões pagãs como o hinduismo, religiões tribais indígenas e orientais têm nas suas tradições religiosas, transmitidas de boca a boca, uma fonte de autoridade igual a dos livros sagrados de outras religiões.
Entretanto, esta tendência em ver a tradição como autoridade suprema não é exclusividade das religiões pagãs politeístas. Por exemplo, a lei Islâmica (Sharia) é baseada principalmente em duas fontes: O Alcorão e o Hadith, que são os volumes que contem a “Tradição Viva” ou Sunnah. Ela compreendia tudo que Maomé fez e disse à parte do Alcorão. Outrossim, o Judaísmo tradicional segue o mesmo padrão, Bíblia-tradição. Os livros do Antigo Testamento são visto como a Bíblia dos judeus , mas a ortodoxia judaica está realmente definida por uma coleção de tradições rabínicas antigas, conhecida como o Talmude. Em efeito, as tradições do Talmude levam uma autoridade igual ou maior que a da Bíblia. O Talmude, segundo a terminologia adotada na edição de Basiléia (1578-1581), compreende a Mischná (conjunto de toda a lei oral admitida) e o Guemará (“aprendizado” ou “ensino” em aramaico, conjunto de comentários feitos por doutores da lei sobre a Mischná e outras coletâneas de leis orais).
Os judeus da época de Jesus também colocaram a tradição em pé de igualdade com a Bíblia. Na verdade eles fizeram as suas tradições superiores à própria Bíblia, porque esta, fora interpretada através das tradições. Sempre que a tradição é elevada a um nível tão alto de autoridade, fica inevitavelmente prejudicada a autoridade da Bíblia. Jesus fez esta mesma observação quando ele confrontou os líderes judeus. Ele mostrou de fato com isso que em muitos casos as tradições dos judeus haviam anulado a palavra de Deus – a Bíblia. Ele os reprovou então da maneira mais severa possível:
“Ele, porém, respondendo, disse-lhes: E vós, por que transgredis o mandamento de Deus por causa da vossa tradição?” Mt. 15:3
“Vós deixais o mandamento de Deus, e vos apegais à tradição dos homens.” Mc. 7:8
“Disse-lhes ainda: Bem sabeis rejeitar o mandamento de Deus, para guardardes a vossa tradição.” Mc 7:9
“invalidando assim a palavra de Deus pela vossa tradição que vós transmitistes; também muitas outras coisas semelhantes fazeis.” Mc. 7:13
A Igreja católica tem seu próprio corpo de tradição que funciona em particular precisamente como o Talmude judeu: é o padrão pelo qual a Bíblia é interpretada. Com efeito, a tradição acaba por suplantar a voz da Bíblia. Ora, onde o ensino sobre a intercessão dos santos e anjos, a doutrina de Maria como a Conceição Imaculada, a suposição de que Maria é co-redentora com Cristo ? Nenhuma dessas doutrinas pode ser substanciada através da Bíblia. Elas são o produto da tradição católica romana.
O QUE É SOLA SCRIPTURA ?
O princípio da Reforma de sola Scriptura é pouco ou mal compreendido pelos católicos. Ela tem a ver com a suficiência da Bíblia como nossa autoridade suprema em todos os assuntos espirituais. Sola Scriptura demonstra simplesmente que toda a verdade que é necessária para nossa salvação e vida espiritual é ensinada explicitamente ou implicitamente na Bíblia.
Não é uma reivindicação de que todo tipo de verdade tem de ser forçosamente encontrada na Bíblia. Os apologistas católicos reivindicam a necessidade da tradição, alegando que a Bíblia não registra tudo em matéria de fé. Isto simplesmente não é verdade. Mas por outro lado, a sugestão da tradição como forma de solucionar esta lacuna não resolve o problema, pois semelhantemente ela não é exaustiva. Por exemplo, a Bíblia não dá detalhes exaustivos sobre a história da redenção, ou sobre certas verdades científicas, dinossauros etc. Em João 21:25 diz que nem tudo aquilo que Jesus fez estão registrados no livro, e realmente todos os livros do mundo não seriam suficientes o bastante para aquele propósito. Mas a Bíblia não tem de ser exaustiva para funcionar como a regra exclusiva de fé do cristão. Nós precisamos de conhecimento necessário e não de conhecimento exaustivo. Tudo aquilo que Deus requer de nós é dado na Bíblia e Ele nos proíbe exceder aquilo que está escrito (Dt. 4:2 ; 12:32 - 1 coríntios 4:6).
Outrossim, Sola Scriptura não é uma negação da autoridade da igreja para ensinar a revelação de Deus. A Igreja é “o pilar e fundação da verdade” (Timóteo 3:15) porque apóia e ensina a Palavra de Deus que é a verdade João 17:17. Porém, a igreja não pode ensinar doutrinas de origem humana ou pode contradizer o que a Bíblia diz. A autoridade da igreja é subordinada à autoridade da Bíblia. E por último, sola Scriptura não é uma negação que historicamente a Palavra de Deus veio em forma oral. Antes de escrever a sua mensagem, Deus falou pelos apóstolos e profetas, e pessoalmente a Jesus Cristo (Hebreus 1:1). Durante o mesmo tempo o Espírito Santo moveu os homens santos para escrever a palavra Dele para ser o registro inspirado permanente de sua mensagem na era pós-apostólica. Os apóstolos e profetas são a fundação da igreja (Efésios 2:20) mas eles estão ausentes, nós ainda podemos construir nossa vida baseada no ensino deles que é registrado na infalível palavra de Deus.
A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS
O senhor nunca quis se fiar na tradição oral, tanto é que mandou seus servos escrever a sua santa palavra.
1. Ele mesmo deu exemplo escrevendo as tábuas da lei Êxodo 24:12.
2. A Moisés ordenou que escrevesse suas leis Êxodo 31:24-26 ; 34:27.
3. Josué também escreveu, Josué 24:26.
4. Os profetas como Isaias 8:1 30:8, Jeremias 30:2 ; 36:1-4, Daniel 7:1, Habacuque 2:2 e outros também
registraram em forma escrita as palavras de Deus logo que as receberam!
Não encontramos no Antigo Testamento qualquer base remota que endosse a possibilidade de uma fonte doutrinária chamada “Tradição Oral”!
Jesus e os apóstolos sempre se valeram da palavra escrita de Deus, ela sempre foi o veículo transmissor da revelação Divina! O texto de 2 Timóteo 3:15-17 é enfático em demonstrar que a Bíblia e ela somente é suficiente para nos guiar, vejamos:
“e que desde a infância sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela que há em Cristo Jesus. Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.” Sendo assim, Lucas poderia de fato elogiar os crentes de Beréia como sendo “mais nobres” que os outros pois não confiaram na transmissão oral do evangelho dada por Paulo, mas submeteram-na ao crivo das escrituras (Atos 17:11). A palavra escrita segundo Paulo é segurança, “Não me é penoso a mim escrever-vos as mesmas coisas, e a vós vos dá segurança.” (Filipenses 3:1) A TRADIÇÃO ORAL TEM SUPORTE BÍBLICO ?
Os apologistas católicos argumentam que existem certos trechos na Bíblia que dão suporte à tradição. Até mesmo nas versões das Bíblias protestantes fala de uma certa “tradição” que seria recebida e obedecida com reverência inquestionável. O que dizer destes versos?. Vamos examinar agora alguns destes versículos que são citados com o fito de embasar seus ensinos extrabíblico de, “verbum de sola Dei”, somente a palavra de Deus, que no entendimento católico é Bíblia + tradição. Colocamo-nos ao lado do apóstolo Pedro em reconhecer que nos ensinos de Paulo há certos “...pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, como o fazem também com as outras Escrituras, para sua própria perdição.” (II Pedro 3:16) Alguns evangélicos se mostram tímidos em responder o que o apostolo Paulo queria dizer com a palavra “tradição”. Entretanto, um exame minucioso do versículo pode dissipar quaisquer dúvidas a este respeito. Existem vários outros pontos que são invocados pelos católicos para fundamentar sua doutrina, mas o espaço não nos permite ser prolixos, iremos aqui analisar apenas os principais.
“e o que de mim ouviste de muitas testemunhas, transmite-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros.” II Timóteo 2:2
Os católicos teimam em dizer que este versículo é uma prova da transmissão das tradições através duma suposta sucessão apostólica. Será?
Aqui o apóstolo Paulo instrui Timóteo a treinar outros homens fiéis para a tarefa de liderança na igreja. Nem de longe há alguma sugestão de sucessão apostólica neste verso, nem dá margem para afirmar que ele estaria passando uma suposta tradição infalível com autoridade igual à palavra de Deus. Pelo contrário, o que este verso descreve simplesmente é o processo de discipulado. Longe de dar a estes homens um pouco de autoridade apostólica que garantiria a infalibilidade deles, Timóteo deveria escolher homens que tivessem provado terem sido fieis, para lhes ensinar o evangelho, e os equipar nos princípios de liderança da igreja. que ele tinha aprendido de Paulo. Timóteo deveria confiar a eles a verdade essencial que o próprio Paulo tinha pregado “na presença de muitas testemunhas”.
O que era esta verdade? Seria ela alguma misteriosa tradição sobre Maria que permaneceu desconhecida há séculos até que certo papa “infalível” falando ex-catedra a impusesse como regra de fé ? Não. Essa verdade era simplesmente a mesma mensagem que aparece na Bíblia e que Paulo declarou que era suficiente para salvar II Timóteo 3:16 – 4:2. Nada há que indique o contrário!
“Assim, pois, irmãos, estai firmes e conservai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.” II Tessalonicenses 2:15
Este é talvez o versículo favorito dos católicos quando eles querem apoiar a doutrina da tradição, porque o verso delineia claramente entre a “palavra escrita” e as “tradições orais”. Concluem dizendo que uma boa parte de seu ensino foi oral, e que chegou até nós somente através da tradição.
A palavra grega traduzida aqui para “tradição” é paradosis. Há de observar que tradição neste texto não é sinônimo da “Tradição” no conceito católico! O apóstolo está falando de doutrina ou ensinamentos. E não há de se supor que esta doutrina não seja a verdade inspirada de Deus que ele expôs a todos os fiéis nas páginas do Novo Testamento. Novamente, o contexto é essencial para uma boa compreensão do que Paulo estava querendo dizer! Os Tessalonicenses tinham sido enganados evidentemente por uma carta forjada (supostamente escrita pelo apóstolo Paulo), falando que o dia do Senhor já tinha chegado (2 Tessalonicenses 2:2). A igreja inteira tinha ficado aparentemente perturbada com isto, e o apóstolo Paulo estava ansioso para os encorajar. Então ele passa a lhes contar como reconhecer uma epístola genuína sua, teria a marca de sua assinatura (3:17). Isto garantiria uma segurança contra as epístolas espúrias em nome dele. Mas até mesmo mais importante que isto , ele queria que eles se despertassem para os mesmos ensinamentos que eles já haviam recebido dele. Por exemplo, ele já tinha lhes falado que o dia do Senhor seria precedido pelo anticristo. Dizia ele: “Não vos lembrais de que eu vos dizia estas coisas quando ainda estava convosco?” (2:5) Não havia nenhuma desculpa para eles, pois haviam sido instruídos sobre isto pela própria boca dele, ou seja, de forma oral ! Não devemos nos esquecer também que esta é a segunda epístola dele aos Tessalonicenses.
Assim, a mera referência a respeito de “tradições orais” recebidas diretamente do próprio Paulo é irrelevante como base para a posição católica, pois nada aqui sugere que a tradição que Paulo entregou aos Tessalonicenses (oralmente) é algo diverso do que esteja nas cartas neotestamentaria dele. Paulo não está encorajando os Tessalonicenses a receber alguma tradição que tinha sido entregada a ele por terceiros, mas eram as mesmas doutrinas que havia recebido por inspiração do próprio Deus (Gálatas 1:11,12). Invocamos aqui um episódio análogo em que Ireneu, um dos pais da igreja ( 202 AD), em sua obra “Contra as Heresias – Lv. III”, numa refutação aos gnósticos de então, usa as escrituras para combate-los, entretanto, estes como meio de escape repelem as escrituras como espúria: “Quando estes são argüidos a partir das Escrituras, põem-se a acusar as próprias escrituras...”. Todavia, quando eram refutados pelos apologistas através das próprias escrituras, apelavam para a chamada “tradição Oral”. Prosseguindo, Ireneu reproduz em poucas palavras o álibi apresentado por eles como escape: “...é impossível achar neles (nos textos bíblicos) a verdade se se ignora a tradição. Porque – (prosseguem dizendo) – essa verdade não foi transmitida por escrito e sim de viva voz...”, “Quando”, afirma Ireneu, “...então passamos a apelar para a tradição que vem dos apóstolos e se conserva nas igrejas pelas sucessões dos presbíteros, opõem-se à tradição.” A princípio parece que Irineu ensinava a tal chamada “Tradição Oral” nos moldes católico romano. Mas observando o texto com mais perspicácia, concluimos que o conteúdo de tal “tradição” nada mais era do que as próprias escrituras. Ele joga mais luz na questão quando apela para a carta de Clemente aos Coríntios dizendo que Clemente tinha anunciado aos Coríntios“...a tradição que tinha recebido recentemente dos apóstolos...”. Vamos ler agora o que seria tal tradição: ele elucida que os bispos ensinavam como tradição que há “um só Deus Onipotente, Criador do céu e da terra, que modelou o homem, produziu o dilúvio, chamou a Abraão, fez sair seu povo do Egito, falou a Moisés, estabeleceu o regime da lei, enviou os profetas, preparou o fogo para o diabo e seus anjos...todos os que quiserem podem verificar segundo o mesmo documento” e “Podem assim conhecer a tradição apostólica da Igreja...” Veja que nada que é citado como tradição, não difere substancialmente em nada do que está nas escrituras, vejamos: “Com efeito, não tivemos conhecimento da economia de nossa salvação por outros que não os pregadores do Evangelho. Este Evangelho, que eles primeiramente pregaram depois, pela vontade de Deus, eles nos transmitiram em Escrituras a fim de se tornar o fundamento e a coluna de nossa fé” e mais “E se os apóstolos não tivessem deixado quaisquer Escrituras, não se haveria de seguir a ordem da tradição que eles legaram aos mesmos aos quais confiaram as igrDERRUBANDO SOFISMAS
Os católicos ávidos por acharem vestígios de certas “tradições orais” nos escritos neotestamentario acabam por deixar seus pressupostos serem os árbitros na exegese do texto bíblico. O que segue abaixo são algumas das objeções levantadas por apologistas católicos enviadas a nós;
“Em 1Cor 10,4, São Paulo nos conta uma interessante história que mostra como a Tradição Oral e a Escrita estavam situadas no mesmo nível: escrevendo sobre os sentidos figurados do Antigo Testamento, tomou um exemplo que não está escrito nele: a rocha da qual manava água (Ex 17,1-7; Num 20,2-13) e que acompanhava os Judeus no deserto. Não há nada nas Escrituras sobre uma pedra andando junto com os judeus!”
Refutação: Paulo estava familiarizado com trabalhos da literatura judaica, inclusive trabalhos do período interbíblico que tornaram-se parte da literatura apócrifa. Esta passagem pode ser encontrada em Philo. Ele estava igualmente familiarizado com a filosofia e mitologia grega, e certamente utilizou destas fontes. Quanto a isto não temos dúvidas. O caso é, a familiaridade de Paulo com tais fontes significa que elas são divinamente inspiradas, autorizadas, e infalíveis ? Claro que não! Será que está passagem é alguma interpretação oral da Bíblia desde Philo até Moisés aplicando-se aos cristãos hoje? Novamente não. A Bíblia usa às vezes fontes não inspiradas (cf. Nm. 21:14 Js. 10:13 I Rs 15:31) Por três vezes Paulo cita pensadores não cristãos como Arato, Menânder e Epimênides (At. 17:28 I Co. 15:33 Tt. 1:12). A Bíblia porém nunca faz tais citações como tendo autoridade da parte de Deus. As frases usuais de autenticação divina tais como “assim diz o Senhor” ou “está escrito” nunca são encontradas quando há citações destas obras pseudepigráficas.
Na interpretação alegórica de Philo sobre a lei, o maná e a bebida (ou fonte da bebida) é comparada a sabedoria de Deus. Paulo interpreta estas identificações em termos da sabedoria do Judaísmo helenístico aplicando-as a Cristo. Isto não significa que ele desejou dizer sobre Cristo tudo aquilo que o Judaísmo helenístico disse sobre a sabedoria.
Agora os católicos dizem que Paulo tirou isto da “Tradição Oral”. Sim, ele tirou de fontes extra-biblica, mas o que isto prova? Prova somente que ele tirou ilustrações e terminologias de todos os tipos de lugares. Da mesma maneira, como já dissemos, ninguém discutiria que ele fez uso de filósofos gregos, e nenhum cristão diria que tais fontes são infalíveis, inspiradas, ou em qualquer aspecto espiritualmente autorizada para nós.
“Também quando São Judas nos diz que São Miguel não quis julgar a blasfêmia de Satanás, quando estavam lutando pelo corpo de Moisés, mas deixou-o ao Julgamento de Deus, não ousou julgar a blasfêmia, mas disse: "Cabe a Ti, Senhor". Ele estava também citando a Tradição Oral. Ou alguém consegue encontrar esta passagem na Bíblia? Estes elementos usados pelos apóstolos que não se encontram no Antigo Testamento vêm da Tradição Divina que era mantinha o mesmo pé de igualdade com as Escrituras (Torah, Profetas, Livros de Sabedoria e os Salmos)”.
Refutação: Devemos esclarecer algumas coisas de antemão. Semelhantemente a Paulo, Judas usa fontes extra-bíblicas, como no verso 9, um trecho tirado do livro “A ascensão de Moisés” e no verso 14 do livro de “Enoque”, ambas literaturas apócrifas. Porém, é bom lembrar que nem a Igreja Católica aceita estes livros como inspirados. Se os católicos advogam esta passagem para fundamentar sua tese da “Tradição Oral” então, para serem coerentes, terão de aceitar todo o resto do livro. Mas é claro que eles não farão isso!
Sola Fide, Sola Scriptura, Sola Gratia, Solo Cristo e Soli Deo Gloria
OBRAS CONSULTADAS
·Encyclopédia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
·O Vaticano e a Bíblia, Dr. Aníbal P. Reis – Edições Caminho de Damasco
·http://www.christiantruth.com/bahnsen.html
·Revista Defesa da Fé, Edições de 2000 e 2001
·Evidência que exige um Veredito, Josh Mcdowell – Editora Candeia
·Antologia dos Santos Padres, Cirilo Folch Gomes – Edições Paulinas
Prof. Paulo Cristiano
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