“Quando se aproximavam de Jerusalém, de Betfagé e Betânia, junto ao monte das Oliveiras, enviou Jesus dois dos seus discípulos e disse-lhes: Ide à aldeia que aí está diante de vós e, logo ao entrar, achareis preso um jumentinho, o qual ainda ninguém montou; desprendei-o e trazei-o. Se alguém vos perguntar: Por que fazeis isso? Respondei: O Senhor precisa dele e logo o mandará de volta para aqui. Então, foram e acharam o jumentinho preso, junto ao portão, do lado de fora, na rua, e o desprenderam. Alguns dos que ali estavam reclamaram: Que fazeis, soltando o jumentinho? Eles, porém, responderam conforme as instruções de Jesus; então, os deixaram ir. Levaram o jumentinho, sobre o qual puseram as suas vestes, e Jesus o montou. E muitos estendiam as suas vestes no caminho, e outros, ramos que haviam cortado dos campos. Tanto os que iam adiante dele como os que vinham depois clamavam:
Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o reino que vem, o reino de Davi, nosso pai! Hosana, nas maiores alturas!E, quando entrou em Jerusalém, no templo, tendo observado tudo, como fosse já tarde, saiu para Betânia com os doze.” (Mc 11.1-11)
Era normal na Antigüidade e até mesmo em eras mais recentes, a entrada triunfal de um rei, de um governador ou de um general em uma terra conquistada, com o propósito de demonstrar força, demarcar aquela região como sendo sua e, ainda, humilhar o povo conquistado. A história contemporânea registrou um fato dessa natureza, quando, na II Guerra Mundial, o exército nazista desfilou solenemente na mais importante avenida de Paris, marcando, de forma indelével, o domínio alemão sobre a França.
A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, nas proximidades da Páscoa, foi, em sua vida, seu único triunfo visível; até então, Ele tinha recusado qualquer tentativa de ser glorificado, mas naquele domingo, Ele não só aceitou, como provocou o acontecimento, cumprindo ao pé da letra a profecia do Antigo Testamento: “Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta.” (Zc. 9:9). No entanto, de modo diferente dos reis guerreiros, Jesus entra em Jerusalém sobre um jumentinho e não em um belo cavalo, entra de forma humilde, como um simples homem e não como um general vitorioso. Mesmo assim, Ele enfrenta o poder judaico, entrando de forma gloriosa em sua capital, invertendo os valores de então, pautados na religiosidade hipócrita, na injustiça e na força, em especial, contra os mais necessitados.
Ele mostra claramente que queria ser reconhecido e aclamado como o Messias, Rei e Salvador de Israel; e o texto do Evangelho registra os traços messiânicos: os ramos (cf. Sl 118.27), o canto de Hosana (que significa: Oh! Salva-nos, Senhor), a aclamação de Jesus como Filho de Davi e Rei de Israel. Assim, a história de Israel chega ao seu fim, uma vez que o seu sentido era o de anunciar e preparar o Reino de Deus, a vinda do Messias. Esse é o dia em que isto se cumpre, pois eis que o Rei entra em sua cidade santa e nele todas as profecias e toda a espera de Israel encontram seu término: ele inaugura seu Reino.
Mas, qual é o sentido disto para nós, para a Igreja?
Primeiramente, nós proclamamos que o Cristo é nosso Rei e nosso Senhor. Com certeza, lembramo-nos constantemente que Jesus é o nosso Salvador; mas, com freqüência, esquecemos que Ele é o nosso Senhor, que nós somos cidadãos de seu Reino, e que nós prometemos colocar nossa fidelidade a esse Reino acima de qualquer outra. O que ele espera de nós, é um real acolhimento do Reino que ele nos trouxe.
Em segundo lugar, o Reino inaugurado em Jerusalém é um Reino universal, abraçando toda a humanidade e toda a criação. E aquele singelo evento, aquele breve momento de triunfo terrestre do Cristo adquire uma significação eterna. Ele introduz a realidade do eterno Reino de Deus em nossa história, revelando-se ao mundo e julgando e transformando a história humana. Dessa forma, devemos confessar que o seu Reino é o único objetivo de nossa vida, a única coisa que dá um sentido a ela. Devemos, também, entregar tudo de somos e que temos a Cristo, uma vez que nada pode ser subtraído ao único e exclusivo Mestre e que nenhum domínio de nossa existência escapa de seu império e de sua ação redentora.
Finalmente, devemos entender que enquanto cidadãos desse Reino, somos representantes dele no mundo; dessa forma, proclamamos a grande responsabilidade da Igreja – a embaixada do Reino de Deus – com relação à história da humanidade e afirmamos sua missão universal. O mundo vive como se esse acontecimento decisivo jamais tivesse ocorrido, como se Deus não tivesse morrido na cruz e como se, nele, o homem não tivesse ressuscitado dentre os mortos. Mas nós, Igreja, cremos, na chegada desse Reino e devemos mostrar e testemunhar ao mundo que a cidadania desse Reino está aberta para quem, com fé, venha se arrepender de seus pecados e aceite Jesus Cristo, o Rei Messias, como seu Senhor e Salvador.
Nelson Calmon
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