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sábado, 25 de fevereiro de 2012

O relato da criação no Gênesis




Uma interpretação profética da história do mundo. A fé de Israel.

O exílio foi uma dura prova para Israel. O fracasso do projeto de um reino temporal, o sofrimento e a humilhação de viver sob o poder estrangeiro, o contato com outras culturas, outras crenças, tudo isso colocava sérias perguntas à fé de Israel.

Os profetas, intérpretes da ação de Deus na história, que ajudaram a sustentar a esperança de Israel nos tempos mais críticos, ajudaram-no tb a compreender a sua história no contexto da história de todos os povos. A derrota e o exílio forçaram Israel a superar uma visão simplista de sua história para compreender que a ação de Deus ia muito além de suas fronteiras. Os profetas autores dos livros sagrados quiseram mostrar, iluminados pela luz da fé, que Javé, o Deus de Israel, é o Deus de todos os homens e dirige a história de todos os povos.

O livro do Genesis

Os onze primeiros capítulos do Genesis mostram a ação salvadora de Deus no mundo, desde suas origens. Mas é inútil procurar nesse texto dados precisos sobre uma "pré-história do povo de Deus". O autor não tinha como conseguir esses dados. A revelação divina não acontece para satisfazer a curiosidade de ninguém, nem vem suprir uma tarefa que pertence a pesquisa histórica ou à ciência cosmológica. Ela vem para ensinar-nos sobre o significado religioso-espiritual dessa história impossível de ser escrita.

O relato da criação. O mito do paraíso.

Para combater os mitos pagãos, Israel cria seu próprio mito inspirado na sua fé. Essa estória não tem nada a te dizer sobre a maneira como se deu a aparição do homem no mundo, sobre a situação concreta dos primeiros homens, sobre a sua maneira de vida, nem mesmo sobre suas experiências precisas de fidelidade ou de pecado. Entretanto, elas podem te revelar, como Palavra de Deus, a presença do amor de Deus na história dos homens, a realidade do pecado, a vitória da graça de Deus sobre o pecado.

Algumas pistas para a interpretação dos símbolos relacionados no relato da criação:

* Adão - palavra hebraica que significa "homem".
* Barro, sôpro de Deus - situação do homem, ligado à terra, mas sentindo em si uma vida que o coloca em ligação com Deus.
* Costela de Adão - igualdade essencial do homem e da mulher, na dignidade e nos direitos.
* Paraíso - a realização plena do homem. Coincide com o que os profetas anunciavam para o futuro: paz, harmonia, plenitude das bençãos divinas.
* Árvore da vida - a Palavra, a sabedoria divina que permite a vida do homem ser plenificada pela vida eterna de Deus.
* Árvore do conhecimento do bem e do mal - a magia, que pretende o poder absoluto, a decisão autônoma sobre o bem e sobre o mal, sem referência a Deus. (Em hebraico, "conhecer" é o mesmo que "possuir", dominar a coisa conhecida.) O contrário da religião.
* Serpente - símbolo das divindades da fertilidade. A tentação de Israel em face dos deuses cananeus: apropriar-se magicamente da fertilidade, em lugar de recebê-la como dom de Javé.
* O fruto oferecido pela mulher - os reis de Israel foram arrastados à idolatria pelas mulheres estrangeiras do palácio.
* os espinhos da Terra, o suor do trabalho, as dores do parto, a morte - todas as limitações da natureza humana, na perspectiva, sem esperança, de um mundo em que o homem destruiu, pelo pecado, os meios de acesso à vida divina. Sem saída para a vida, essas limitações se tornam dolorosas e sem sentido.


O drama da vida no relato da criação.

O relato da criação é uma espécie de drama em três atos, e nenhum deles pode ser esquecido, senão o sentido de toda a estória vai ser deturpado:

* 1º ATO: O plano de Deus para o homem e para o mundo.
* 2º ATO: O pecado - atitude livre do homem - entra em cena, opondo um obstáculo ao plano divino.
* 3º ATO: Deus torna a entrar no cenário e, diante da situação criada pelo homem, revela novos aspectos do seu plano de salvação que vêm ao encontro da situação criada pelo pecado.

O autor do Genesis quer mostrar a história do mundo como a História da Salvação. Para mostrar a presença do amor de Deus na história do mundo, ele escolhe um caminho bem simples: projeta na história do mundo a experiência vivida por seu povo, a história de Israel. Mas, sendo basicamente a mesma experiência de graça e de pecado de todo homem perante a Deus, e agindo sob a inspiração divina, essa estória ultrapassa os limites da experiência de um povo para ser o relato da situação de todo homem diante de Deus.

* 1º ATO: O plano de Deus - dirigindo a trama há o grito de não-aceitação da situação do mundo: ela não corresponde ao plano de Deus.
* 2º ATO: O pecado - assim como Israel colocou obstáculos à realização das promessas divinas, tb a humanidade toda coloca obstáculos para a construção do Reino de Deus.
* 3º ATO: A restauração do plano divino - da mesma maneira que as infidelidade de Israel não conseguiram frustrar as promessas divinas, graças ao amor e à misericórdia de Javé, que sempre se dispos, com paciência e amor de pai e de mãe, a reconduzir Israel com segurança para o Reino. Aliás, esse plano de restauração vai manifestar toda a sua riqueza na encarnação de Cristo.

Por isso que o relato da criação, como está no Genesis, é um sinal de esperança. A graça de Cristo excedeu o poder do pecado, a esperança cristã supera toda a visão pessimista da situação do homem no mundo.

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